Hoje, trago à tona um caso bastante emblemático para discutir os perigos do “Tribunal da Internet” e sua relação com as fake news. 

Em 29 de agosto de 2018, pouco depois do meio-dia, na pequena cidade de Acatlán, no estado de Puebla, no México, uma pequena aglomeração de cerca de 100 pessoas estavam em frente à Delegacia. 

O motivo? Dois homens, Ricardo Flores (21) e seu tio Alberto Flores (43), estavam sendo acusados por sequestrar crianças de quatro, oito e 14 anos, que teriam sido encontradas mortas com sinais de remoção de seus órgãos.  

Logo do WhatsAppA prova? Um boato no WhatsAppque se espalhou rapidamente. Rápido demais para não ter volta. 

O grupo bastante hostil que estava no local conseguiu arrombar a entrada da delegacia e arrastar para fora os dois homens, que foram jogados nos degraus de pedra e espancados violentamente, sem qualquer chance de defesa. 

Tudo filmado pelos celulares daqueles que assistiam passivamente todo aquele episódio e transmitido ao vivo no Facebook. Ao mesmo tempo, as famílias dos dois foram surpreendidas por inúmeras mensagens na rede social, com um link para assistir aquele circo de horrores ao vivo, sem nada poder fazer. 

Em seguida, sobre os dois homens foi jogado gasolina e ambos foram carbonizados vivos, na frente de toda a população. 

Parece algo impensável em pleno século XXI, mas, não é?! 

O julgamento público foi embasado em uma notícia com conteúdo completamente falso, com intenção de gerar desinformação, enganar e causar mal a duas pessoas inocentes acusadas de um crime um crime que nunca cometeram. 

A notícia de um suposto crime ganhou as redes sociais de forma avassaladora e direcionou o julgamento público contra dois homens inocentes, sem qualquer prova, sem qualquer evidência. 

No Tribunal da Internet não existe processo. Não existe direito de defesa. Mas, existem vítimas reais e os efeitos podem ser desastrosos e sem volta. 

Esse é o perigo de compartilhar notícias falsas, de não averiguar a veracidade daquilo que compartilhamos, seja print de montagens, frases que nunca existiram ou download de deep fake. 

O devido processo legal existe justamente para impedir que esse tipo de equívoco possa ocorrer, em que pese não ser imune a erros. É o princípio que garante a todos o direito de ser submetido a um processo com todas as etapas previstas em lei, dotado de todas as garantias constitucionais para que os direitos fundamentais do acusado sejam efetivamente resguardados, especialmente, igualdade entre as partes, o contraditório e a ampla defesa. 

Em um cenário de Big Data, em que somos bombardeados de um grande volume, variedade, velocidade de informações, é responsabilidade de cada um de nós checar a veracidade das informações veiculadas, denunciar fake news e prezar para que o ambiente virtual não seja mais um propulsor de injustiças.

E você, o que tem feito para combater as fake news? Fala pra mim nos comentários!

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